Da lei para as agulhas



Esqueça aquela figura do alfaiate velhinho, de cabelos brancos, fita métrica em volta do pescoço. É com um relógio laranja de plástico, camisa de corte slim e suas treze tatuagens espalahdas pelo corpo que Alexandre Won recebe os clientes. Modela as curvaturas de ombros e cintura apenas com o olhar – e nunca erra. Leva em conta postura, trejeitos, estilo de vida. “Um bom terno precisa acompanhar cada movimento da pessoa”, explica. Aos 31 anos, ele se destaca com a técnica bespoke, uma maneira de produzir roupas além do tradicional “sob medida”. A expressão surgiu na Inglaterra, no século 17, e quer dizer “dar ordem para ser feito”. Ou seja: vale para qualquer produto confeccionado de maneira totalmente personalizada.

Enquanto roupas sob medida partem de uma base pré-pronta, adaptada às medidas do cliente, as bespoke surgem inteiramente do corpo e gosto da pessoa. É possível definir cor da linha, tecido, botão, modelo e forro. Assim, garante-se uma peça única.
O trabalho de Alexandre como alfaiate começou em 2006, quando ele terminou a faculdade de direito e não conseguia encontrar um bom terno para se vestir. “Nada ficava bem no meu corpo. Fui a diversos alfaiates e nada me satisfazia, sempre ficava uma sobra”, conta. Foi então que ele decidiu fazer o próprio terno e ver se dava certo. Deu.

Nunca fez cursos de costura, mas contou com o conhecimento que obteve da mãe, costureira da família. “Ela fazia as minhas roupas e as dos meus irmãos quando éramos pequenos.” Com o sucesso da empreitada, abandonou o direito e passou a costurar ternos para os colegas da profissão que nem chegou a exercer. Depois disso, o boca a boca fez a fama.


Hoje, ao frequentar os grandes centros financeiros do país, é possível que você se depare com alguém usando um costume Alexandre Won. O alfaiate, porém, é reservado quanto aos nomes de seus clientes. Revela apenas o de Bruno Setúbal, herdeiro do Banco Itaú, que já declarou publicamente usar suas peças.

Quem quer um terno Won desembolsa, no mínimo, 6 900 reais, valor inicial da calça e do paletó. Ele também faz camisas e camisetas polo moldadas diretamente no corpo. Seu corte é moderno, com a roupa mais justa, o modelo slim. Em média, um costume leva três meses para ficar pronto e exige quatro provas. Atualmente, ele possui dois ateliês, um em São Paulo e outro no Maranhão, onde tem um sócio. Seu plano futuro? Abrir uma escola de alfaiataria. “A profissão está morrendo, e eu não quero isso. Fora que é muito difícil conseguir mão de obra qualificada.” Se depender de Alexandre, o futuro da alta-costura está garantido.

CRÉDITO: REVISTA ALFA

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