Una bella figura


Ferrari é como uma bela garota, que faz você se apaixonar à primeira vista”, diz Luca di Montezemolo, presidente da empresa, um elegante aristocrata. Por quase 40 anos, ele vem dedicando sua vida a amplificar tanto o apelo sexual quanto as vendas da Ferrari. Responsável por resgatar a marca da quase falência nos anos 1990, Montezemolo a transformou na mais rentável fabricante de automóveis de luxo no mundo. Tais feitos alçaram esse senhor de 64 anos a herói na Itália. Alinhado, articulado e dinâmico – com o título oficial de marquês de Montezemolo –, ele goza de reverência quase papal por ter devolvido a grandeza a uma instituição nacional. Luca di Montezemolo personifica o que os italianos chamam de “la bella figura” – algo que envolve não apenas beleza física, mas também sensibilidade estética, estilo e apreço pela boa vida. Dez anos atrás, uma revista italiana entrevistou mil mulheres pedindo-lhes que descrevessem seu exemplo de beleza masculina ideal. Entre os listados, Montezemolo aparecia em terceiro, atrás de Sean Connery e Harrison Ford. Ele reagiu à notícia reclamando: “Não sou uma estrela do rock, eu sou um empresário”.

No entanto, Montezemolo sabe que é de sex appeal que a indústria de carros de luxo trata. Impecavelmente vestido, envolvente, sempre com um largo sorriso, ele cultiva uma imagem altamente polida. Mesmo sendo audaz e arrojado nos negócios. Nascido em 1947, em Bolonha, de uma tradicional família piemontesa, o filho mais novo do conde Cordero Montezemolo – cuja família serviu a Casa Real de Saboia até sua dissolução, em 1946 – se beneficiou de uma educação de primeira classe. Teve também fundos ilimitados para financiar uma tentativa de curta duração como piloto, dirigindo para a equipe Rally Lancia na década de 1960. Ao perceber que nunca chegaria à Fórmula 1, porém, ele partiu para Nova York e estudou direito na universidade de Columbia.

No retorno ao lar, não teve dificuldades em achar um emprego. Seu pai era um velho amigo de Gianni Agnelli, na época o homem mais rico da Itália, proprietário do império que fabricava – entre outras muitas coisas – os automóveis Fiat. O moço correspondeu e, em 1973, ansioso para dar ao rapaz a chance de provar a si mesmo, Agnelli disse a Enzo Ferrari que ele precisava adicionar sangue novo à sua empresa e o transferiu para sua divisão. Chamado a Maranello, local da fábrica, Luca virou assistente pessoal do patriarca e fundador, aos 26 anos.

Ganhou a confiança de Enzo Ferrari e, em 1975, foi alçado a diretor-gerente das atividades esportivas da Fiat, o que incluía a divisão de corridas da Ferrari. Sob sua liderança, a escuderia conquistou dois campeonatos mundiais com Nikki Lauda, em 1975 e 1977 – e Montezemolo virou diretor-sênior da companhia. Após exercer vários cargos em diferentes áreas do conglomerado, voltou à Ferrari, após a morte de seu fundador, em 1988. “Quando assumi, vi que as pessoas haviam se acostumado a dizer: ‘Nós somos Ferrari’, o que significa que podemos descansar em nossa reputação, sem abrir as janelas para o mundo e tentar melhorar.” Mas a linha de produtos sofria com problemas tanto de design quanto de engenharia. “Após a Copa do Mundo (de 1990, que Montezemolo ajudou a organizar), decidi premiar-me com uma Ferrari amarela 348. No dia seguinte à entrega do carro, eu estava esperando em um cruzamento e ao meu lado havia um Fiat Strada Hatchback. Ambos aceleramos quando o sinal ficou verde, e o cara do Fiat me ultrapassou. Soube naquele instante que havia algo de muito errado na Ferrari”, conta.

Ele iniciou então um processo de reestruturação violento, contratou os melhores técnicos e engenheiros e apostou numa estratégia dupla: investir pesadamente na Fórmula 1 e usar a escuderia para liderar uma miríade de avanços tecnológicos. Contra os protestos de alguns dos executivos financeiros, investiu 80 milhões de dólares – uma soma colossal para uma empresa indo à falência – para atualizar a fábrica da Ferrari. Montezemolo também montou o time dos sonhos de Jean Todt (chefe de equipe) na Fórmula 1, com Ross Brawn (engenheiro) e Michael Schumacher, que passaria a ganhar cinco vezes consecutivas campeonatos com a Ferrari, um nível sem precedentes de dominação. As vitórias pavimentaram o caminho para um marketing mais agressivo, e as vendas de carros tiveram um aumento constante. A Ferrari tornou-se, de longe, a divisão mais lucrativa dentro do Grupo Fiat nos anos 1990. O “Cavallino Rampante” foi mais uma vez símbolo de orgulho nacional e excelência. E Luca di Montezemolo manteve intacta, como até hoje, sua reputação de eficiência – sem jamais perder o glamour.

CRÉDITO: REVISTA ALFA

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